A comunicação é um dos pilares fundamentais de qualquer operação militar. Sem ela, o comando e o controle das forças se tornam praticamente impossíveis. É nesse contexto que as Antenas de Campanha ganham destaque — soluções improvisadas, eficientes e criadas em campo para garantir que a mensagem chegue ao destino, mesmo em meio ao caos do combate.
Durante a história militar, desde as missões da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Segunda Guerra Mundial até os treinamentos modernos do Exército Brasileiro, a capacidade de manter contato entre unidades em terrenos adversos sempre foi um desafio estratégico. A improvisação e o conhecimento técnico em comunicações foram e continuam sendo habilidades essenciais dos operadores de rádio.
As Antenas de Campanha, também conhecidas pelo termo técnico em inglês Field-Expedient Antennas, são dispositivos improvisados em campo de operações com materiais simples, muitas vezes disponíveis no ambiente. Elas são utilizadas quando a antena original está danificada, indisponível ou quando é necessário melhorar o alcance e a qualidade do sinal em terrenos de difícil propagação.
Em operações reais, como as realizadas pela FEB na Itália durante a Segunda Guerra Mundial, soldados brasileiros frequentemente improvisavam antenas com fios telefônicos, galhos de árvores e isoladores improvisados. A criatividade e o conhecimento técnico dos radioperadores eram determinantes para manter o fluxo de comunicação entre pelotões e comandos superiores.
Essas antenas são indispensáveis em cenários onde a comunicação precisa superar grandes distâncias, obstáculos naturais e condições meteorológicas adversas, sem depender de equipamentos sofisticados.
No Exército Brasileiro, o uso das Antenas de Campanha continua sendo parte essencial do treinamento de comunicações. Em exercícios de campo e missões de apoio, como nas Operações Ágata e nas ações de fronteira, as unidades de comunicações utilizam antenas improvisadas para manter contato seguro e eficiente entre bases móveis e postos avançados.
Além disso, a aplicação dessas antenas é parte das técnicas de contramedidas eletrônicas defensivas (ECCM – Electronic Counter-Countermeasures), garantindo que as transmissões não sejam facilmente interceptadas ou bloqueadas por interferências intencionais. Essa prática preserva a segurança operacional e assegura a continuidade das comunicações táticas mesmo em ambientes de guerra eletrônica.
As Antenas de Campanha seguem os mesmos princípios das antenas convencionais: transformar sinais elétricos em ondas de rádio e vice-versa. A diferença está no método de construção e nos materiais usados.
No campo, a eficiência vem da criatividade e da aplicação correta de princípios de radiofrequência. Com fio WD-1, isoladores feitos de vidro, plástico, borracha ou até madeira seca, é possível construir uma antena totalmente funcional para rádios militares como o AN/PRC-77, SINCGARS ou equipamentos equivalentes de uso atual.
O segredo está em ajustar o comprimento do fio conforme a frequência de operação, garantindo ressonância e melhor desempenho na transmissão e recepção do sinal.
Uma das situações mais comuns em campo é a quebra da antena tipo whip (chicote), presente em diversos rádios portáteis. A substituição pode ser feita de forma rápida com materiais simples.
Basta utilizar 3 metros de fio WD-1, um isolador e uma corda para manter a antena suspensa verticalmente. O fio deve ser conectado entre a base da antena e o suporte do conector do rádio, garantindo que a antena improvisada permaneça em posição vertical.
Essa solução é extremamente útil em posições estáticas, como acampamentos ou postos de observação, onde a antena original foi danificada e é necessário restabelecer rapidamente as comunicações.
A Antena de Fio Longo Horizontal é uma das mais eficazes para comunicações a longas distâncias. Sua radiação máxima ocorre nas extremidades do fio, tornando-a direcional e ideal para enlaces ponto a ponto entre bases.
Ela não apenas aumenta o alcance da transmissão, como também reduz interferências vindas de outras direções, funcionando como uma antena anti-jamming. O Exército Brasileiro utiliza esse conceito em treinamentos para ensinar como direcionar o sinal e evitar interferências de outras fontes.
Para construí-la:
Em situações de comunicação unidirecional, pode-se adicionar um resistor na extremidade voltada para a estação distante — uma bateria BA-30 descarregada serve perfeitamente como resistor para rádios de baixa potência. Esse tipo de improviso era amplamente utilizado pelos soldados da FEB, que precisavam enviar mensagens para quartéis distantes em meio ao terreno montanhoso da Itália.
A Antena Doublet Alimentada ao Centro é uma das antenas de campanha mais eficientes para comunicações bidirecionais. Ela é especialmente eficaz em ambientes de selva, onde a umidade e a vegetação densa prejudicam a propagação do sinal.
Cada elemento da antena deve ter um quarto do comprimento de onda (λ/4), e o cálculo pode ser feito dividindo 468 pela frequência em MHz, obtendo o comprimento total em pés e ajustando para o valor exato.
Essa antena é horizontal, portanto comunica-se melhor com outras antenas do mesmo tipo.
A FEB utilizava princípios semelhantes em suas operações, quando antenas doublet improvisadas eram suspensas entre árvores para facilitar a comunicação entre os batalhões em áreas de difícil acesso.
Montar uma doublet é simples, mas requer atenção ao isolamento e à tensão do fio. Uma boa montagem garante alta estabilidade de sinal e baixo ruído de recepção, características ideais para transmissões de comando.
A Antena Meia-Rômbica Vertical combina simplicidade e grande alcance. Formada por 30 a 45 metros de fio WD-1 e um suporte central de 9 a 14 metros de altura, é excelente para comunicações entre bases fixas e estações móveis.
Esse tipo de antena tem características bidirecionais, mas pode ser ajustada para unidirecional com o uso de um resistor na extremidade voltada para o destino.
Historicamente, o Exército Brasileiro empregou variações dessa configuração em missões de patrulha de fronteira e operações logísticas, onde a comunicação de longa distância era vital. Em campanhas da FEB, os operadores de rádio também improvisavam antenas semelhantes, utilizando materiais locais, árvores e estacas para fixação.
Os resistores são essenciais nas Antenas de Campanha, pois direcionam o sinal na direção desejada. Um resistor adequado melhora a eficiência e reduz reflexões que prejudicam o desempenho.
Para rádios como o AN/PRC-77, um resistor de 600 ohms e 2 watts é o ideal. Se não houver disponível, é possível improvisar: uma bateria BA-30 descarregada, com pregos em cada extremidade, gera cerca de 500–600 ohms, funcionando como um resistor de campo.
Os operadores da FEB usavam essa técnica com grande eficácia, especialmente em condições de emergência. A criatividade era um recurso tão importante quanto o próprio equipamento.
Os isoladores de campanha evitam que o sinal elétrico se disperse em direções indesejadas. Materiais como vidro, plástico e borracha são os mais indicados, mas em campo, objetos como madeira seca, tecido e corda também podem cumprir essa função.
Durante as operações da FEB, isoladores eram frequentemente feitos de vidros de garrafa ou pedaços de cerâmica encontrados nas vilas italianas. A resistência mecânica e o isolamento elétrico eram cruciais para manter o desempenho das antenas em condições climáticas severas.
Historicamente, os rádios militares eram classificados como FM (Frequency Modulated) ou AM/SSB (Amplitude Modulated / Single Side Band). No entanto, a tendência moderna é utilizar designações baseadas em faixas de frequência, como:
Essas classificações ajudam a definir o tipo de antena mais adequado para cada missão. Por exemplo, as Antenas de Campanha para VHF são mais curtas e ideais para comunicações de linha de visada, enquanto as de HF permitem cobrir grandes distâncias, refletindo o sinal na ionosfera — técnica conhecida como skywave.
As Antenas de Campanha são mais do que simples improvisos — representam engenharia, resiliência e adaptação. Na Força Expedicionária Brasileira, o uso criativo dessas soluções permitiu manter contato entre companhias em meio a combates intensos, sob neblina e frio extremo.
Hoje, o Exército Brasileiro mantém viva essa tradição em seus cursos e centros de comunicações, onde o estudo das antenas improvisadas é parte do treinamento técnico e tático. O domínio dessas técnicas é o que garante que, mesmo nas condições mais adversas, a mensagem sempre chegue ao destino.
As Antenas de Campanha são um testemunho da capacidade humana de inovar sob pressão. Elas representam a fusão entre conhecimento técnico e improviso, transformando materiais simples em instrumentos de comunicação vital.
Tanto no passado heroico da FEB quanto nas operações modernas do Exército Brasileiro, essas antenas continuam sendo símbolo de engenhosidade e eficácia militar. Entender seu funcionamento é compreender que, no campo de batalha, comunicar é sobreviver — e com as antenas certas, mesmo as improvisadas, a missão nunca fica sem voz.
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