O que é um balun e por que ele é tão importante
Um balun é um dispositivo elétrico usado para fazer a transição entre um sistema balanceado (como um dipolo, doublet ou loop) e um sistema desbalanceado (como um cabo coaxial comum de 50 ohms), controlando correntes indesejadas e otimizando a transferência de energia de RF. Em rádioamadorismo, PX e comunicações em HF, o balun 1:1 é especialmente valorizado porque mantém a impedância próxima de 50 ohms em ambos os lados, funcionando como um choke de corrente de modo comum que impede que o cabo coaxial passe a irradiar e distorça o diagrama de radiação da antena.
Além de proteger o transceptor, o balun ajuda a melhorar o SWR, reduzir QRM/QRN, minimizar interferências em TV, sistemas de CFTV e equipamentos eletrônicos próximos, elevando o desempenho global da estação de rádio. Esse conjunto de benefícios faz com que o balun 1:1 seja praticamente obrigatório em muitas instalações modernas, especialmente em ambientes urbanos e em apartamentos, onde o retorno de RF pelo coaxial é um problema crítico.
Conceitos fundamentais: balanceado, desbalanceado e modo comum
Para entender por que o balun é tão importante, é essencial diferenciar corrente diferencial e corrente de modo comum em sistemas de RF. Em uma antena balanceada alimentada corretamente, as correntes que fluem nos dois condutores são iguais em amplitude e opostas em fase, formando a chamada corrente diferencial “boa” que gera o campo eletromagnético desejado. Já a corrente de modo comum aparece quando parte da RF passa a circular pela blindagem externa do cabo coaxial, fazendo com que ele se torne um condutor ativo de RF e altere o comportamento da antena.
Um cabo coaxial é naturalmente um elemento desbalanceado, enquanto um dipolo clássico é balanceado. Quando se conecta um coaxial diretamente a uma antena balanceada, sem balun, surge uma assimetria nas correntes que alimentam os braços da antena e parte da energia começa a fluir pelo lado externo do coax. Isso gera problemas como lóbulo de radiação torto, aumento de ruído recebido por o cabo captar interferência da casa, além de RF “escapando” para o shack e provocando comportamentos estranhos em computadores, interfaces e periféricos.
O papel específico do balun 1:1 (choke de RF)
O balun 1:1 de corrente, também chamado de choke balun ou common mode choke, tem como missão principal bloquear a corrente de modo comum e manter somente a corrente diferencial correta fluindo pela linha de alimentação e pela antena. Em vez de transformar a impedância, como fazem baluns 4:1 ou 9:1, ele atua como um estrangulador de RF, oferecendo alta impedância apenas para a componente de modo comum, enquanto deixa a corrente desejada praticamente inalterada.
Esse tipo de balun é amplamente recomendado para dipolos ressonantes, doublets, antenas loop, Yagis e uma série de antenas HF alimentadas com cabo coaxial, porque reduz a tendência do coaxial a irradiar e contribui para um padrão de radiação mais próximo do teórico. Em muitos casos, a simples instalação de um bom balun 1:1 no ponto de alimentação já resulta em SWR mais estável, menor sensibilidade a objetos próximos (telhado metálico, estruturas de ferro) e sensação perceptível de redução de ruído na recepção.
Balun x unun e outros tipos de transformadores de impedância
Embora seja comum ouvir que “balun é transformador de impedância”, na prática existem duas grandes famílias: baluns de corrente (choke) e baluns de tensão, além dos unun usados para sistemas totalmente desbalanceados. O balun 1:1 de corrente é, antes de tudo, um isolador de modo comum, enquanto baluns 2:1, 4:1, 9:1 são comumente projetados para converter impedâncias entre antenas com valores típicos (como 100 ohms, 200 ohms ou 450 ohms) e linhas de 50 ohms.
Já o unun 1:1 é indicado quando se tem antena e linha ambos desbalanceados, como em muitas antenas verticais com plano de terra ou sistemas onde o coaxial serve também de contrapeso, mas se deseja impedir que a blindagem atue como elemento adicional de radiação. Em antenas como delta loop e quadra cúbica, em que a impedância típica pode ser 200 ohms ou 100 ohms, o uso de balun 4:1 ou balun 2:1 é frequente para trazer a impedância final para algo perto de 50 ohms, mantendo ao mesmo tempo a simetria da antena.
Benefícios práticos do balun 1:1 no dia a dia do rádio
Na prática, instalar um balun 1:1 choke no ponto de alimentação da antena traz uma série de benefícios mensuráveis e perceptíveis. Em primeiro lugar, tende a estabilizar o SWR ao longo da faixa, porque impede que pequenas mudanças de posição do cabo, proximidade de paredes ou objetos metálicos modifiquem tanto o padrão de corrente na linha quanto na antena. Em segundo lugar, reduz o retorno de RF para a estação, combatendo problemas como microfonia, travamento de interfaces digitais e aquecimento anormal de cabos ou conectores dentro do shack.
Outro ponto frequentemente citado por especialistas e fabricantes é a redução de ruído na recepção. Sem um balun adequado, a blindagem do coaxial pode funcionar como “antena de ruído”, captando interferências de fontes domésticas (fontes chaveadas, dimmers, roteadores, TVs, computadores) e levando tudo diretamente à entrada do receptor. Com um choke de modo comum bem dimensionado, esse acoplamento de ruído é atenuado, resultando em sinal mais limpo, leitura de S‑meter mais baixa em ausência de sinais e melhor inteligibilidade nos modos de voz e digitais.
Construção caseira: balun 1:1 de núcleo de ar
Um dos atrativos do balun 1:1 é a possibilidade de construção simples em casa usando materiais acessíveis, como tubo de PVC e cabo coaxial RG‑58, criando um choke de núcleo de ar eficaz para faixas específicas de HF. Nessa abordagem, o coaxial é enrolado em espiras sobre um tubo de determinado diâmetro, formando uma bobina que oferece alta impedância para a corrente de modo comum na faixa de frequência de interesse, sem exigir ferrite.

Os projetos típicos utilizam comprimentos de alguns metros de RG‑58 ou coax similar, enrolados em torno de um tubo de PVC com diâmetros que variam em torno de 8 a 10 cm, ajustando o número de voltas para a faixa de trabalho, por exemplo, 10 metros ou 20 metros. Essa solução de balun 1:1 de núcleo de ar é muito popular em antenas ressonantes, testes rápidos e instalações onde se deseja baixo custo, resistência mecânica e uma faixa de operação não necessariamente muito larga, como um dipolo dedicado a uma única banda.
Balun 1:1 com ferrite: desempenho em banda larga
Quando se busca um balun com comportamento mais consistente em várias faixas, maior impedância de modo comum e melhor controle em instalações complexas, o caminho natural é o balun 1:1 com núcleo de ferrite. Nesse caso, o cabo coaxial (como RG‑58, RG‑400 ou cabos de teflon para alta potência) é enrolado em um toroide ou em contas de ferrite, escolhendo-se o mix adequado (como 31 ou 43) para a região de frequência desejada.
Ensaios publicados mostram que, em toroides como FT‑240‑31 ou FT‑240‑43, um número adequado de espiras pode gerar impedâncias de modo comum da ordem de centenas a milhares de ohms em HF, o que é mais do que suficiente para suprimir boa parte da corrente indesejada. Em muitas estações, o balun 1:1 de corrente com ferrite é integrado ao suporte da antena, à caixa de conexão do dipolo ou à base de antenas multibanda, atuando simultaneamente como isolador de linha e como parte do sistema de casamento de impedância.
Não existe “receita de bolo” única para balun
Embora haja tabelas com número de espiras, diâmetros e modelos de ferrite, criadas por rádioamadores e fabricantes, todos são unânimes em afirmar que não existe uma única “receita de bolo” válida para qualquer situação. O balun precisa ser dimensionado considerando faixa de frequência, potência, tipo de antena, impedância típica de carga e até o ambiente de instalação (como proximidade de estruturas metálicas ou presença de cabos paralelos).
Por isso, é comum ver recomendações para que o rádioamador use instrumentos como analisador de antenas, SWR meter e principalmente nanoVNA para verificar a eficácia real do balun na sua estação. Com esses instrumentos, é possível medir SWR em diferentes pontos, observar a impedância em função da frequência, testar configurações diferentes de número de espiras e escolher o arranjo que oferece melhor desempenho na prática, em vez de depender apenas de valores teóricos.
Medições, cargas resistivas e diagnóstico de desempenho
Uma prática amplamente difundida na avaliação de baluns e transformadores de impedância é o uso de cargas resistivas para simular a antena durante os testes. Em um balun 4:1 projetado para transformar 200 ohms em 50 ohms, por exemplo, costuma-se ligar um conjunto de resistores que totalizem cerca de 200 ohms no lado da antena e medir o SWR no lado de 50 ohms para verificar se a transformação está correta.
No caso do balun 1:1, a verificação normalmente se concentra na medição da resposta em frequência e do comportamento do sistema de antena com e sem o balun instalado, observando-se variações no SWR, no ruído e no padrão de radiação quando possível. Ferramentas como o nanoVNA permitem ir além do SWR e analisar módulo e fase da impedância, fornecendo dados que ajudam a otimizar o projeto e a escolher entre diferentes configurações de choke de RF e balun de corrente.
Aplicações típicas em dipolos, doublets, loops e Yagis
Os dipolos ressonantes são provavelmente a aplicação mais clássica do balun 1:1. Quando alimentados com cabo coaxial, a instalação de um balun de corrente no ponto de alimentação ajuda a garantir correntes iguais nos dois braços, mantendo o padrão de radiação simétrico e reduzindo a participação do coax como elemento irradiante. Em antenas doublet utilizadas com linha aberta e tuner, às vezes se utiliza balun 1:1 ou 4:1 na transição entre linha balanceada e tuner desbalanceado, dependendo da impedância e da topologia da instalação.
Em antenas loop, como delta loop e quadra cúbica, o tipo de balun escolhido depende da impedância típica do sistema: valores próximos a 200 ohms favorecem o uso de balun 4:1, enquanto loops com cerca de 100 ohms podem se beneficiar de balun 2:1. Já em Yagis e outras antenas direcionais, o balun 1:1 choke é quase obrigatório para preservar o front‑to‑back, controlar lóbulos laterais e evitar que o cabo coaxial acabe distorcendo o diagrama de radiação da antena.
Segurança, instalação e boas práticas de construção
Todos os projetos de balun de qualidade enfatizam também aspectos de segurança elétrica e mecânica. Na fase de construção, recomenda-se o uso de óculos de proteção, luvas, ferramentas adequadas para corte e furação de tubos de PVC e atenção à fixação das espiras para evitar que o cabo se solte com o tempo, especialmente em instalações externas expostas a vento e intempéries. Em aplicações de alta potência, a escolha de cabo com dielétrico apropriado, espaçamento adequado entre voltas e conectores robustos é fundamental para evitar aquecimento e descargas superficiais.
Na instalação, o balun deve ser montado de forma a minimizar esforços mecânicos sobre os conectores e soldas, frequentemente com o auxílio de abraçadeiras, suportes adicionais ou caixas de proteção herméticas. Em ambientes externos, a vedação contra água e umidade, o uso de fita de autofusão e a proteção contra raios UV prolongam a vida útil do conjunto e garantem que o desempenho do balun permaneça estável ao longo dos anos.





